[EcoDebate]
Em 500 anos, o Brasil já destruiu 93% da Mata Atlântica e a maior parte
das florestas de Araucária. Em cerca de 50 anos, especialmente depois
da construção de Brasília e de estradas como a transbrasiliana, destruiu
mais da metade do Cerrado. No século XXI, caminha a passos largos para
destruir a Amazônia. Os cálculos indicam que o país já eliminou 20% da
floresta e a destruição continua acelerada com o desmatamento, os
grandes projetos de construção de usinas hidrelétricas, a expansão da
pecuária e da soja, o crescimento das cidades e a difusão das
madeireiras, da mineração e do garimpo.
Infelizmente o governo não tem nenhum plano para salvar a Amazônia. Ao
contrário, o que existe são precários planos para reduzir o
desmatamento, paralelamente ao incremento dos grandes projetos
desenvolvimentistas (ou seja, na visão governamental, a destruição vai
ser um pouco mais lenta).
Um relatório de janeiro de 2013, do Imazon, instituição que monitora o
desmatamento por meio de imagens de satélite, mostrou que a destruição
da floresta subiu em dezembro pelo quarto mês consecutivo. Após anos de
razoáveis avanços no combate ao desmatamento, tudo indica que o problema
voltou a se agravar, refletindo a expansão de fazendeiros, madeireiros,
garimpeiros e construtores para áreas antes inexploradas (inclusive
áreas indígenas). Nos últimos cinco meses de 2012, o Imazon detectou a
eliminação de 1.288 km2 (quilômetros quadrados) de matas, mais do que o
dobro da área devastada no mesmo período de 2011.
A Amazônia sofre dois tipos de ameaças: 1) uma gestada internamente, em
decorrência da ideologia desenvolvimentista; 2) e outra, vinda
majoritariamente de fora, como resultado do aquecimento global e das
mudanças climáticas.
Para exemplificar a primeira ameaça, basta olhar os projetos econômicos
existentes. Além de Belo Monte e outras cinco usinas hidrelétricas em
construção, o governo desenvolvimentista brasileiro planeja instalar
pelo menos 23 novas hidrelétricas na Amazônia. Ao todo, essas 29
hidrelétricas devem gerar 38.292 MW, quase metade dos 78.909 MW
produzidos pelas 201 usinas hidrelétricas em operação hoje no país. Sete
delas, como as das bacias do Tapajós e do Jamanxim, serão feitas no
coração da Amazônia, em áreas de floresta contínua praticamente
intocadas. Outras estão em áreas remanescentes importantes de floresta
amazônica, como o conjunto de sete hidrelétricas planejadas nos rios
Aripuanã e Roosevelt, no Mosaico de Apuí, com impacto direto em 12
unidades de conservação de proteção integral e terras indígenas.
A Amazônia é o novo Eldorado das forças produtivas e do empreendedorismo
que, de maneira despudorada, desejam ampliar a dominação humana sobre a
natureza. Com energia hidrelétrica virão a ampliação das cidades, das
estradas, das fábricas, do comércio, dos carros e da expansão da
pecuária e da agricultura. Para os políticos e/ou empresários, a
Amazônia é a bola da vez. Eles falam em desenvolvimento não predatório,
mas só faltou explicar como fazer este milagre.
Para exemplificar as ameaças advindas das mudanças climáticas, um estudo
da Agência Espacial Americana (Nasa) revelou que uma área da floresta
amazônica (equivalente a duas vezes o tamanho da Califórnia – 800 mil
quilômetros quadrados) continuou sofrendo os efeitos de uma grande seca
que começou em 2005. A pesquisa sugere que a floresta tropical amazônica
pode estar mostrando os primeiros sinais de degradação em larga escala
devido às mudanças climáticas. Durante o verão de 2005, mais de 700 mil
quilômetros quadrados de floresta no sudoeste da Amazônia enfrentaram
uma extensa e severa seca. A super seca provocou danos generalizados na
cobertura florestal, com a morte de galhos e quedas de árvores,
reduzindo o habitat para a fauna local.
O estudo mostra que embora os níveis de chuva tenham voltado ao normal
nos anos seguintes, os prejuízos continuaram durante a segunda extensa
seca que começou em 2010. Os pesquisadores acreditam que a região sul e
oeste da Amazônia já está sofrendo os efeitos do aquecimento global.
Esta situação pode indicar um círculo vicioso, pois enquanto as mudanças
climáticas ajudam a destruir a Amazônia, a redução da floresta vai
fazer aumentar o aquecimento global.
Por enquanto a Amazônia é nossa. Mas daqui a algumas décadas a Amazônia
não será de ninguém, pois vai deixar de existir como uma floresta
integral e deve se tornar uma região de ilhas de mata, cercadas pela
destruição humana por todos os lados. O novo Código Florestal brasileiro
não vai interromper a destruição das espécies e o crime de ecocídio.
Queimadas, mineração, hidrelétricas, pecuária, crescimento das cidades,
rodovias, etc, tudo isto, em conjunto, está destruindo a maior floresta
tropical do mundo, para o beneplácito da espécie homo sapiens.
O que a Amazônia precisa não é de mais desenvolvimento, mas, talvez, de
des-desenvolvimento. Quanto menos atividades antrópicas melhor. Há quem
diga que o ideal é que a Amazônia fosse transformada em um grande parque
natural (livre de toda exploração econômica), para a tristeza e raiva
daqueles que defendem a extração das riquezas da biodiversidade
amazônica em função e desfrute do progresso egoístico dos seres humanos
nacionais e internacionais.
José Eustáquio Diniz Alves,
Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor
titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da
Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus
pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
Originalmente publicado no site EcoDebate, 01/02/2013.
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