por Stephen Leahy, da IPS
Rachaduras no permafrost do Ártico vistas de um helicóptero. Foto: Brocken Inaglory/cc by 3.0 |
Uxbridge Canadá, 18/2/2013 – Cientistas descobriram que, quando o
permafrost (gelo permanente) derrete e o carbono preso nele é liberado e
exposto à luz do Sol, ele se converte em dióxido de carbono em ritmo
40% mais veloz. “Isto realmente muda o rumo do debate” sobre quando e
quanto carbono é liberado na medida em que o permafrost derrete devido a
temperaturas ainda mais altas no Ártico, afirmou a pesquisadora Rose
Cory, da Universidade da Carolina do Norte.
Há 13 milhões de quilômetros quadrados de permafrost no Alasca, Canadá,
Sibéria e partes da Europa. Como a IPS já informou, um estudo de 2011
estima que o aquecimento global poderá liberar carbono do permafrost
suficiente para elevar em três graus a temperatura global, além do
produzido pelas emissões humanas derivadas do petróleo, gás e carvão. As
emissões humanas estão causando um aquecimento que se encaminha para os
quatro graus, alertou na semana passada a Agência Internacional de
Energia (AIE).
É necessária uma rápida “descarbonização do fornecimento elétrico” para
evitar esse futuro, disse essa entidade ao divulgar um novo livro,
intitulado Electricity in a Climate-Constrained World (A
Eletricidade em um Mundo Climaticamente Limitado). “As soluções são bem
conhecidas: maior eficiência energética, mais pesquisas e
desenvolvimento da produção de energia de baixo carbono, e colocação de
um preço realista para o carbono”, indica o livro.
As projeções da AIE não incluem as emissões de carbono do permafrost. Os
modelos climáticos tampouco, disse Cory à IPS. E ninguém levou em conta
a recente descoberta de que a luz solar acelera a conversão de carbono
antigo em dióxido de carbono. “Neste momento tentamos aprofundar esta
descoberta para obter uma estimativa de quanto carbono poderá ser
liberado”, explicou.
Cory e seus colegas estudaram regiões do Ártico no Alasca, onde o
permafrost está derretendo e fazendo entrar em colapso a superfície de
terra que o recobre, formando buracos causados por erosão e
deslizamentos de terra, além de expor à luz do Sol solos enterrados
durante muito tempo. Concluíram que a luz do Sol aumenta em pelo menos
40% a conversão bactericida do carbono do solo exposto em dióxido de
carbono, em comparação com o carbono que permanece na escuridão.
“Isto significa que o carbono do permafrost é potencialmente um fator
enorme que ajudará a determinar a rapidez com que a Terra esquenta”,
explicou o coautor do informe, George Kling, da Universidade de
Michigan. “Não podemos dizer a rapidez com que este carbono do Ártico
retroalimentará o ciclo global do carbono e acelerará o aquecimento
climático sobre a Terra, mas o fato de que estará exposto à luz
significa que ocorrerá mais rapidamente do que pensávamos”, detalhou
Kling em um comunicado.
A equipe informou sobre suas descobertas em um artigo publicado no dia
11 deste mês na versão para a internet da revista norte-americana Proceedings of the National Academy of Sciences.
Uma vez que o Ártico esquente o suficiente, as emissões de carbono e
metano derivadas do derretimento do permafrost iniciarão uma
retroalimentação que amplificará o atual ritmo de aquecimento, disse
anteriormente à IPS o cientista Kevin Schaefer, do Centro Nacional de
Dados sobre Neve e Gelo (NSIDC) de Boulder, no Estado norte-americano do
Colorado.
Não há estimativas precisas sobre as emissões de metano, um gás cujo
efeito estufa é 40 vezes mais potente do que o do dióxido de carbono. O
metano pode ter um grande impacto sobre as temperaturas no curto prazo,
assegurou Schaefer. Em 2011, sua pesquisa mostrou que faltavam apenas
entre 15 e 20 anos para o permafrost chegar ao seu “ponto de inflexão”. À
luz da descoberta de Cory, agora isto terá que ser revisto. A única
pergunta é com que antecedência acontecerá.
É necessário nos preparamos para um mundo cinco graus mais quente, disse
Robert Watson, ex-presidente do Grupo Intergovernamental de
Especialistas sobre a Mudança Climática (IPCC). Ao falar no dia 12 em um
simpósio em Londres, Watson, diretor científico do Centro Tyndall para a
Pesquisa sobre a Mudança Climática, observou que o mundo perdeu sua
oportunidade de permanecer abaixo dos dois graus. “Todas as evidências,
na minha opinião, sugerem que vamos rumo a um mundo com aquecimento
entre três e cinco graus”, acrescentou.
Quando Watson foi presidente do IPCC, entre 1997 e 2002, existia grande
otimismo quanto a ser feito um acordo mundial para limitar as emissões
contaminantes. “Esperávamos que as emissões não aumentassem no ritmo
tremendo em que estão ocorrendo”, declarou ao serviço britânico de
notícias Climate News Network. Agora, “todas as promessas do mundo, que
em todo caso é improvável cumprirmos, não nos darão um mundo com
aquecimento de apenas dois graus”, ressaltou.
Originalmente publicado no site IPS e republicado no site Envolverde, 18/02/2013.
Realmente tremendo o que esta sucedendo e parece que ninguém compreende a real situação...muito bom teu blog.
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