O caderno Amanhã (O Globo) publicou na última terça (19) um artigo
assinado por Jim Leape, diretor-geral do WWF Internacional, e por Maria
Cecília Wey de Brito, secretária-geral do WWF-Brasil, sobre o tráfico
nacional e internacional de animais silvestres.
No texto, são reveladas dimensões e impactos dessa prática extremamente
nociva à preservação de impressionantes formas de vida. Os motivos de
sua perpeatuação envolvem questões econômicas, sociais e culturais.
Logo, soluções dependerão sempre do esforço conjunto de entidades civis,
governos e setor privado.
Confira a íntegra do artigo abaixo.
Aves estão entre as principais vítimas do tráfico e comércio ilegais no Brasil |
A caça e o comércio ilegais de animais silvestres estão
entre as ameaças mais graves à sobrevivência de algumas das espécies
mais carismáticas, valiosas e ecologicamente importantes da Terra. Nos
últimos meses, ressurgiu dramaticamente a captura ilegal de animais e a
comercialização de produtos com alto valor derivados de espécies
nativas.
Somente na África do Sul, 668 rinocerontes foram mortos em 2012 e
milhares de elefantes morrem todos os anos para extração de seu marfim.
Graças ao tráfico desenfreado, apenas 3.200 tigres restaram vivendo na
natureza.
A maior parte desta pilhagem é escoada para a Ásia, onde serve como
símbolo de status, souvenires para turistas ou, ainda, para supostos
fins medicinais.
O tráfico ilegal resulta em ferimentos e mortes humanas. Milhares de
pessoas perdem a vida nas batalhas ferozes com traficantes. As
organizações criminosas por trás desse comércio raramente são presas e
muito menos processadas.
No Brasil, o problema não é menos preocupante. Redes de tráfico escoam
animais silvestres por estradas que cruzam grande parte do país, segundo
o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama). De 2005 a 2010, o
órgão emitiu mais de R$ 600 milhões em multas por crimes envolvendo
animais silvestres. No mesmo período, só recolheu apenas 2% desse valor.
Todos os anos, 38 milhões de animais são retirados da natureza
brasileira. Apenas quatro milhões são vendidos, principalmente no
Sudeste. O restante acaba em gaiolas, é solto em locais inadequados ou
morre vítima dos maus tratos.
Um animal retirado da natureza reage à presença do ser humano e tem
dificuldades para crescer, se alimentar e se reproduzir em cativeiro. O
papagaio, a arara, o mico e o jabuti, ao contrário do que muitos pensam,
são silvestres. Eles pertencem à natureza e nela vivem melhor.
Aprisionar ou vender animais silvestres é uma prática ilegal comum em
todo o Brasil. As principais vítimas são aves canoras ou de grande
beleza. Além disso, o comércio ilegal é estimulado pela procura de
criadores e colecionadores, pet shops, indústrias, pesquisa ou
biopirataria.
As redes ilegais de escoamento se valem de métodos semelhantes aos
usados por traficantes de drogas, armas e pedras preciosas, como
falsificação de documentos, suborno, sonegação de impostos. Também
estabelecem rotas nacionais e internacionais de tráfico de animais,
geralmente retirados das regiões mais conservadas do Brasil.
Para garantir que espécies silvestres sigam cumprindo seu papel, temos
que consolidar e ampliar áreas protegidas e fortificar ações conjuntas
para coibir essas práticas ilegais.
O WWF tem desenvolvido uma campanha internacional contra o comércio
ilegal e insustentável de espécies silvestres e subprodutos. Junto com a
Traffic, a rede internacional contra o tráfico de animais silvestres,
estamos chamando atenção ainda com mais força para as práticas ilegais
de captura e comercialização com a proximidade da Convenção
Internacional sobre o Tráfico de Espécies Ameaçadas da Fauna e da Flora
Silvestres (Cites), em março.
A fundação do WWF também foi motivada pelo desejo de assegurar uma
chance de sobrevivência para animais tão incríveis como os elefantes e
os rinocerontes, em benefício da própria vida na Terra. Afinal, os
animais silvestres não cometeram nenhum crime para terminar a vida atrás
das grades ou ser simplesmente exterminados.
Há esperança de que possamos salvar os animais ameaçados pelo tráfico,
desde que não fiquemos imóveis. Este mês lançamos uma nova petição que
tem como alvo o consumo na Tailândia (wwf.panda.org/killthetrade), onde
cada nome se soma ao esforço para pressionar as autoridades a mudar a
situação.
Cada pessoa, seja ativista ou comerciante, jornalista ou artesão,
turista ou presidente, mas principalmente cidadão, pode contribuir para
acabar com o tráfico e comércio ilegal de espécies silvestres.
A hora é agora.
Originalmente publicado no site do WWF, 21/02/2013.
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