sexta-feira, 24 de maio de 2013

Atleta vegano de 91 anos bate recorde em maratona nos EUA


Ele venceu o câncer e muitas maratonas e garante que foi por causa do veganismo

Mike Fremont se tornou vegano há 21 anos, em 1992, quando completava 70 anos de idade e lutava contra um câncer na próstata. Os médicos deram a ele 3 meses de vida, mas Mike não desanimou e seguiu as recomendações do médico Michio Kushi, formalizadas depois no livro “A Dieta que Previne o Câncer”.
“O tumor encolheu nos dois anos e finalmente consegui matá-lo, apenas com minha alimentação.”, garante o experiente corredor, que não consome nada de origem animal. Nada de laticínios, carnes, peixes ou ovos. Em 1994, ele fez uma cirurgia para retirar o que havia sobrado do tumor e, de fato, os médicos constataram que ele estava curado. Mike decidiu ir além e mudou, além de sua alimentação, seu estilo de vida.
Além de se curar do câncer, o “vovô vegano” começou a correr e a disputar maratonas. Ao longo de duas décadas vem quebrando recordes e chamando a atenção de corredores mais jovens. Esta semana ele completou a meia-maratona de Knoxville, nos EUA, em 3h, 3min e 56seg, um recorde para alguém com mais de 90 anos.

Quase 100 anos de idade sem tomar nenhum remédio

Com o mesmo peso que tinha nos tempos de universidade, Mike garante que não toma nenhum medicamento e o único suplemento que utiliza é o de vitamina D, no inverno. Sua alimentação é baseada em legumes, hortaliças, frutas, grãos e cereais integrais e castanhas.
“É claro que treinar é importante, mas quando você tiver a minha idade, você não poderá treinar a menos que o seu corpo aguente. Eu simplesmente não tenho palavras para explicar a importância da alimentação vegana para minha performance.” – disse em entrevista à Revista Runners World.
Mike está diretamente envolvido com a preservação de rios e córregos de Ohio e seu treinamento inclui mais de 50 km de corrida por semana, algumas horas de musculação e um pouco de canoagem.
Muito simpático, ele contou à Runners World: “Eu não consigo correr rápido o suficiente para me cansar.” Apesar dos recordes, Mike faz questão de enfatizar que correr para ele é um hábito e não uma paranóia por segundos: “Eu faço isso por saúde, por diversão e pela companhia dos amigos.”- disse.

Na companhia do maior maratonista do mundo

Mike não está sozinho. Scott Jurek, considerado o maior maratonista do mundo, também é vegano e atribui à sua alimentação o sucesso de suas performances (leia aqui).
Mike parece estar muito longe de parar de correr e inspirar pessoas sobre como uma alimentação livre de crueldade é saudável para o corpo e para a mente. Acesse www.sejavegano.com.br e descubra os primeiros passos para se tornar vegana(o).

Originalmente postado no site Vista-se11/04/2013.

terça-feira, 7 de maio de 2013

Agricultura Urbana: Plante comida, não gramados, artigo de André Aroeira Pacheco


Já faz algum tempo que a página Grow food, not lawns[1] vem sendo a minha favorita no Facebook. Um misto de paz, otimismo e boas intenções em um mar de caos, futilidades e ostentação que caracteriza a rede social, talvez o preço que temos de pagar para ter acesso a ferramentas importantes de descentralização de informação e aprendizado (pra quem quer). Mas a imagem que eu vi numa quarta-feira dessas pra trás foi um tanto impressionante, mesmo para o alto nível de conteúdo da página, que se baseia em uma proposição simples ao seu público de 250.000 curtidores de todo o mundo: plante comida, não gramados.

Vista aérea de loteamento em Genebra, Suíça (46°12’N, 6°09’E). Foto: Yan Arthus-Bertrand. Fonte: http://migre.me/dZY9w

A primeira reação ao ver esta imagem é simples de descrever: “Minha nossa, é assim que tinha que ser!!!”.

Vamos esquecer que estamos falando da Suíça, imaginar que esse exemplo é perfeitamente replicável em qualquer lugar do Brasil e tentar responder uma pergunta simples: quais as vantagens de ter uma cidade ou um bairro planejados desta forma?

Em primeiro lugar, como o próprio nome implica, a agricultura urbana traz um benefício explícito, a produção local e descentralizada de alimentos. Isto significa dizer que as pessoas plantam sua própria comida, ou boa parte dela, e não têm muitos problemas para sobreviver ainda que estejam em épocas de crise (ou até desempregados). Com toda certeza, podemos dizer também que a qualidade nutricional destes alimentos será sensivelmente melhor, pelo simples fato de que quem planta o que vai comer o faz da melhor maneira possível, o que ninguém pode garantir quando a produção é feita por terceiros. Este terceiro pode estar cuspindo, urinando ou pior – e mais comum – envenenando sua comida na tentativa de não perder uma única folha da safra e maximizar o lucro. Ainda assim, na agricultura urbana, você tem a opção de terceirizar essa produção: já pensou no lado mais romântico de dar essa responsabilidade para seu(s) filho(s), desenvolvendo nele(s) de forma definitiva um senso de responsabilidade e respeito à natureza? É certamente benéfico – e divertido – para uma criança, fugir da televisão, da internet e do videogame e conhecer o mundo real, ser responsável pelo jantar da semana que vem, ver seu trabalho dando frutos, entender de fato de onde vem a comida, criar uma conexão com o meio natural ao qual pertence (talvez os pais também estejam precisando dessas lições). Ainda, comer coisas realmente saudáveis, plantar e colher flores, árvores, resgatar as sementes, plantar tudo de novo no mês que vem.. Este trabalho terapêutico de poucas horas diárias pode envolver muito mais, um idoso, os vizinhos, uma ‘gangue’ de crianças da rua e do bairro, algumas crianças com necessidades especiais, um autista. E ainda vai economizar uma grana pra família.

Pensando em uma escala maior, os benefícios da agricultura urbana também podem ser maiores. Em um País como o Brasil, que manda diariamente para lixões ou aterros, comida suficiente para alimentar 20 milhões de pessoas com as três refeições[2], uma simples composteira poderia resolver o problema da disposição final do desperdício. Os resíduos orgânicos gerados no preparo ou no desperdício em casa seriam mandados de volta para o ‘jardim’ e, reciclados, alimentariam as próximas ‘safras’, economizando no transporte de comida para os aterros e lixões, na superlotação precoce destes e na decomposição de matéria orgânica em ambiente anóxico, que gera gases de efeito estufa muito piores que o CO2. Advém ainda deste cenário a possibilidade de que quem se preocupa com resíduos orgânicos talvez se preocupe com resíduos recicláveis por uma simples mudança de mentalidade, dando um fim (ou um novo início) adequado este tipo de material (na página GFNL são ensinadas milhares de maneiras de se reaproveitar estes materiais na própria horta, vale dar uma olhada). O alívio na cadeia de resíduos da cidade e consequentemente no meio ambiente podem ser extraordinários.

Dando um passo além e pensando ainda em maior escala (ou menor, como preferem os geógrafos, já que o denominador da fração é quem aumenta), a agricultura urbana representa também um incremento de justiça social e econômica. Com a reforma agrária inacreditavelmente empacada em países como o Brasil há décadas, essa atividade pode se transformar em fonte alternativa de renda e levar à descentralização da produção de alimentos, que tem causado genocídio (inclusive cultural), concentração de renda, destruição ambiental e êxodo rural, aliados ao aumento do trabalho escravo, muitas vezes característicos da agricultura industrial (o agronegócio). Ainda, as menores distâncias entre produtores, agora na cidade, e consumidores, fortalecem os mercados locais, contribuindo também para a distribuição de renda e diminuindo a necessidade de transporte, notável poluidor e responsável por perdas substanciais da produção. No mundo todo são crescentes as iniciativas de criação de hortas comunitárias no lugar de praças abandonadas (ou praças de esportes etc) em comunidades pobres, e as vantagens nutricionais, ambientais e socioeconômicas desses modelos têm dado ótimos retornos.

Mais uma olhada na foto aérea e outras vantagens emergem, desta vez relativas ao planejamento do uso e ocupação do solo. É praticamente inimaginável que uma chuva forte neste contexto resultará nas tragédias previsíveis enchentes que vemos em todos os grandes e médios municípios brasileiros; em primeiro lugar, o percentual de impermeabilização do solo não deve chegar a 30%, permitindo a infiltração e o acúmulo da água no solo, minimizando os escoamentos superficiais; em segundo lugar, é bastante provável que cada agricultor urbano capte e armazene a água das chuvas que chega na sua casa, pois tem consciência de seu valor; e ainda, a diminuição do lixo e da carga de sedimentos arrastados com os escoamentos aumentaria a eficiência do sistema de drenagem do município. Na realidade brasileira, podemos citar o exemplo da impermeabilização da Macrozona de Estruturação e Qualificação Urbana da Cidade de São Paulo (figura abaixo), onde os percentuais de impermeabilização chegam a 84%, tornando inevitáveis as enchentes que assolam toda a região metropolitana da cidade. As soluções mágicas emergenciais (e caras!) propostas pelo governo paulista variam entre a criação de crateras gigantes de armazenamento da água e o desassoreamento do Tietê (leia-se aumento da calha) pra tentar compensar a falta de planejamento na organização espacial da cidade, enquanto o problema real continua sendo ignorado[3].

Tragédia anunciada: distribuição espacial da percentagem de área impermeável dos distritos da zona urbana de São Paulo no começo da década de 2000. Fonte: JACINTHO, ALMEIDA & GOVEIA, 2009[4].

Pensando ainda neste contexto, é possível visualizar corredores ecológicos sendo formados nesta configuração de planejamento urbano, especialmente se mantidas APPs e Reservas urbanas (um Parque, por exemplo). Neste sentido, uma matriz intransponível no modelo atual brasileiro pode se transformar em local mais propício ao estabelecimento e deslocamento de espécies animais e vegetais, melhorando fluxos gênicos e a conectividade entre populações, que de outra forma estariam isoladas e mais vulneráveis.

Esta nova configuração resultaria em aumento da qualidade ambiental e de vida, tornando as cidades menos cinza, mais harmoniosas e mais vivas. A educação ambiental propiciada pelo contato com a terra, o cuidado com o lixo e a convivência com as áreas verdes, aliada à responsabilidade socioambiental na produção local de comida, elevariam o senso de responsabilidade e solidariedade das pessoas. A menor necessidade de dinheiro, o maior (e melhor) contato com os filhos e vizinhos, a existência de vida fora de casa e o real aproveitamento do tempo livre (que talvez aumente) também contribuiriam para o aumento da felicidade das pessoas. Tudo isto em um contexto mais saudável, mais limpo e mais sustentável.

Talvez demoremos para atingir este ponto, mas o primeiro passo pode ser dado por qualquer um, em qualquer lugar. Este texto é meu primeiro passo, o próximo quem sabe será um quintal como o da foto abaixo, onde todos possam ajudar e/ou pegar os alimentos que quiserem. Seja você também mais solidário, mais humano, mais vizinho, mais amigo, mais pai, mais filho, mais feliz. Grow food, not lawns.


Fontes:


André Aroeira Pacheco



Biólogo. Mestrando em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre na Universidade Federal de Minas Gerais.

Originalmente publicado no portal EcoDebate, 11/04/2013

Publicação anterior no portal Ecodebate:


segunda-feira, 6 de maio de 2013

Eletronorte tem que compensar índios Assurini por danos de Tucuruí, confirma Justiça Federal


De acordo com estudo da própria concessionária de energia, são graves os impactos para os indígenas

Foto: site Povos Indígenas no Brasil

A Justiça Federal manteve a decisão de obrigar a Eletronorte a implantar programa de medidas compensatórias e mitigatórias em favor da comunidade indígena Asurini do Trocará, impactada pela construção da usina hidrelétrica de Tucuruí. A decisão, de 2011, havia sido contestada pela concessionária de energia elétrica, mas foi mantida por decisão da 2ª Vara Federal em Marabá.

A decisão atende a pedido do Ministério Público Federal (MPF). Na ação, o MPF tomou como base estudo de impactos socioambientais, patrocinado pela própria Eletronorte e acompanhado pela Fundação Nacional do Índio (Funai), que identificou danos causados aos índios desde a implantação do empreendimento.

O estudo foi realizado por recomendação do MPF entre os anos de 2005 e 2006, mas até hoje a Eletronorte não implantou o programa de ações compensatórias apontadas por ela mesma como necessárias à mitigação dos impactos.

A decisão judicial obriga a Eletronorte a repassar R$ 150 mil mensais aos Assurini até o início da execução das medidas compensatórias, a apresentar novo relatório informando acerca da situação atualizada das ações emergenciais implementadas em favor da comunidade indígena e a comprovar quais foram as ações emergenciais já implementadas.

A Eletronorte também terá que apresentar programa das ações compensatórias que serão implementadas em favor dos indígenas, detalhando e especificando as medidas e projetos contemplados e seus respectivos prazos de execução. A Justiça Federal determinou que a concessionária de energia comprove, no prazo de 90 dias, o inicio da implementação das ações  compensatórias.

“Trata-se de decisão simbólica e de extrema relevância à comunidade indígena Assurini, pois, quando cumprida, finalmente ensejará a compensação dessa comunidade pelos impactos negativos que vêm sofrendo em razão da instalação e do funcionamento da hidrelétrica de Tucuruí, ocorridos há mais de 20 anos. É importante frisar que esses graves impactos, apesar de reconhecidos e identificados pela própria Eletronorte desde 2006, jamais foram por ela compensados, apesar de sucessivas promessas por parte da empresa de que isso ocorreria. A cada promessa descumprida, aumentava, justificadamente, o sentimento de frustração e desamparo por parte da comunidade indígena Assurini”, afirma a procuradora da República Luana Vargas Macedo.

Graves impactos – De acordo com o estudo patrocinado pela Eletronorte, a barragem provocou graves impactos sobre a Terra Indígena Trocará, agrupados em três categorias:

  1. ocupação do entorno, com descontrole do acesso de pessoas à terra indígena, conflitos com fazendeiros e assentamentos do entorno, além da substituição da língua nativa pelo português, introdução de doenças sexualmente transmissíveis, entre outros;

  1. crescimento de Tucuruí, com uso inadequado de energia elétrica, aumento do alcoolismo e tabagismo, facilidade de crédito para aquisição de bens de consumo, casamento com não índios, entre outros; e,

  1. alteração das águas do rio Tocantins, com redução de espécies de peixes da região e mudanças dos hábitos alimentares.

Em diversas reuniões com o MPF, a Funai e a comunidade indígena, a Eletronorte chegou a reconhecer a necessidade de implantação do programa, tendo concordado em apresentá-lo, mas descumpriu os compromissos assumidos, frustrando as expectativas da comunidade e adiando indefinidamente as ações compensatórias.

O processo foi remetido pela Justiça Federal à Funai, para que a autarquia informe a conta bancária em que será depositada a multa mensal de R$ 150 mil.

Processo nº 0009149-40.2010.4.01.3901 – 2ª Vara Federal em Marabá
Link para acompanhamento processual

Originalmente publicado no site do Ministério Público Federal – Procuradoria da Repúblicano Pará, 08/04/2013.


Acordo entre empresas químicas e trabalhadores contaminados em Paulínia é finalizado no TST


O processo de conciliação entre as empresas Basf S/A e Raízen Combustíveis (antiga Shell) e os trabalhadores contaminados por substâncias químicas, em Paulínia (SP), foi finalizado ontem (8), na audiência de oficialização do acordo entre as partes, no Tribunal Superior do Trabalho (TST), em Brasília.

Segundo o documento, as empresas deverão pagar R$ 200 milhões por danos morais coletivos, indenizações individuais proporcionais ao tempo de serviço dos trabalhadores e plano de saúde a todos os ex-funcionários e dependentes. As empresas foram condenadas por exposição de trabalhadores aos componentes tóxicos de pesticidas fabricados no local.

A antiga fábrica de Paulínia, produtora de agrotóxicos, ficou em atividade entre 1974 e 2002. A indústria contaminou o solo e as águas subterrâneas da região com produtos químicos, como os pesticidas clorados Aldrin, Endrin e Dieldrin, compostos por substâncias cancerígenas. No total, 1.068 pessoas, entre ex-trabalhadores e dependentes, integraram o processo.

Esse acordo vem sendo negociado desde 2007, quando o Ministério Público do Trabalho (MPT) da 15ª Região, em Campinas, entrou com uma ação pública contra as empresas cobrando tratamentos de saúde e indenizações por danos morais e coletivos.

Após condenações na primeira e na segunda instâncias, a Justiça determinou que as empresas teriam de pagar cerca de R$ 1 bilhão às vítimas, para o custeio dos tratamentos de saúde e as indenizações. Caso o processo tivesse sido executado segundo a decisão das instâncias inferiores, essa teria sido a condenação de maior valor no âmbito da Justiça do Trabalho.

Na reta final, no âmbito do TST, o processo foi conduzido pela ministra-relatora, Delaíde Miranda Arantes, e pelo então presidente do tribunal, ministro João Orestes Dalazen, que concluiu a conciliação no último dia de seu mandato, em 5 de março.

A maior discordância entre as partes, ao longo do processo, foi em relação ao pagamento de planos de saúde ao maior número possível de trabalhadores e dependentes afetados pela contaminação e à indenização por danos morais coletivos – que deverá ser usada pela Secretaria de Saúde de Paulínia.

Depois do acordo final proposto pelo tribunal, as condições foram submetidas à aprovação das diretorias das empresas e de assembleia dos trabalhadores.

*Colaboraram Débora Zampier e Bruno Bocchini

Edição: Davi Oliveira

Reportagem de Carolina Sarres*, da Agência Brasil, publicada pelo EcoDebate, 09/04/2013

Para saber mais: