A
comercialização de produtos orgânicos provenientes da agricultura familiar vai
ganhar novo impulso esta semana. O primeiro box para itens agroecológicos da
Grande Florianópolis, que funcionará nas Centrais de Abastecimento do Estado de
Santa Catarina (Ceasa) em São
José, será inaugurado hoje (20/03).
De
acordo com Charles Lamb, coordenador do Centro de Estudos e Promoção da
Agricultura de Grupo (Cepagro), que oferece assistência técnica a agricultores
familiares da região, a medida vai ajudar a combater o principal gargalo do
setor, que é a dificuldade de escoar a produção.
O
Cepagro é parceiro do Laboratório de Comercialização da Agricultura Familiar da
Universidade Federal de Santa Catarina na implantação do projeto. O Box 721
também conta com o apoio do Ministério do Desenvolvimento Agrário.
“A
expectativa é que, com a garantia de um espaço para a comercialização, a
eliminação de intermediários e facilidades logísticas, como o transporte
compartilhado por produtores de uma mesma região, os alimentos orgânicos sejam
vendidos por preços, em média, 20% menores”, disse.
Charles
Lamb ressaltou que, com a iniciativa, a Ceasa catarinense será pioneira no país
na cessão de um espaço exclusivo para produtos agroecológicos provenientes da
agricultura familiar.
“Outras
centrais de abastecimento têm iniciativas parecidas, porém de cunho privado e
sem estarem exclusivamente ligadas ao sistema cooperativo aqui proposto”,
explicou.
Lamb
destacou que o box vai permitir maior constância e variedade no abastecimento
de dezenas de pequenos estabelecimentos de varejo, além de facilitar a
logística de circulação das compras governamentais, como o Programa de
Aquisição de Alimentos (PAA).
“As
vendas no local contribuirão para melhorar o abastecimento de feiras,
restaurantes, pequenos e médios varejistas, compras coletivas e compras
institucionais, especialmente as direcionadas à alimentação escolar”, disse.
No
galpão, de 75
metros quadrados, serão ofertadas variedades orgânicas
de batatas, cebolas, laranjas, maçãs e feijões, além de morango e minitomate.
Outro produto com grande destaque é a polpa de açaí, extraído por agricultores
da região de Jaraguá do Sul e Joinville, em um tipo de manejo que gera recursos
financeiros e a preservação da Mata Atlântica.
De
acordo com o coordenador da Cepagro, a iniciativa também servirá de estímulo
para que fumicultores da região abandonem a produção de tabaco e passem a
cultivar orgânicos. Desde 2005, quando o Brasil tornou-se signatário da Convenção-Quadro
para o Controle do Tabaco, da Organização Mundial da Saúde (OMS), o governo
federal desenvolve ações para oferecer alternativas produtivas e geradoras de
renda aos fumicultores.
Por
meio do Programa Nacional de Diversificação da Produção em Áreas Cultivadas com
Tabaco, do Ministério do Desenvolvimento Agrário, são atendidas, principalmente
com projetos de capacitação e pequisa, 45 mil famílias de agricultores
familiares nos três estados da Região Sul. Segundo o MDA, juntos, eles são
responsáveis por 95% da produção de fumo do país.
Segundo
especialistas, produtores que trabalham nesse tipo de lavoura estão sujeitos a
diversos riscos, como o de intoxicação por nicotina e agrotóxicos.
O
agricultor do município de Imbuia (SC) Jair Scheidt abandonou a produção de
fumo há três anos e, depois de produzir alimentos com manejo tradicional,
atualmente produz cebolas, tomates, feijões e frutas orgânicas. Segundo ele,
além dos ganhos para sua própria saúde, a produção agroecológica lhe garantiu
“consciência tranquila”.
“Sei
que, do modo como cultivo hoje, não preciso me preocupar. Posso pegar um
alimento e oferecer para a minha família sem medo de estar comendo veneno. E
também tenho a tranquilidade de saber que quem compra e consome o que produzo
está comendo coisa limpa, que não vai dar um câncer”, disse, acrescentando que
o cultivo de orgânicos diminuiu a produtividade de sua terra, mas também
reduziu os gastos com produtos químicos.
“Em
um mesmo pedaço de 1,5
hectare eu colhia 40 toneladas de cebola em um ano, e
agora só colho 12 toneladas. Mas agora, como não preciso comprar veneno para as
pragas, remédio para aumentar a lavoura e adubo químico, o dinheiro que sobra
no fim do mês é três vezes mais do que antes”, contou.
Edição:
Juliana Andrade
Reportagem
de Thais Leitão, da Agência Brasil, publicada pelo EcoDebate, 20/03/2013.
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