A NESA afirma que sim, mas o Sistema de Transposição de Embarcações não funciona em Belo Monte
Altamira/PA, 28 de dezembro de 2012
A semana
anterior ao Natal foi surpreendida com a circulação de uma matéria
veiculada por uma das maiores mídias do País. A matéria dizia que o
sistema de transposição para navegabilidade do rio Xingu, na área da
ensecadeira do sítio Pimental, já estava concluído e em pleno
funcionamento. A notícia logo se espalhou, mas para algumas pessoas que
viajam constantemente para a volta grande do Xingu tudo isso não passava
de mais uma grande mentira da Norte Energia (NESA).
Hoje as 09h30min
uma equipe composta por nove pessoas, entre estas: um cinegrafista, uma
repórter, ativistas socioambientais, um pescador, artistas que divulgam
a luta contra Belo Monte e o piloto da voadeira, dirigiram-se até a
ensecadeira para saber a verdade dos fatos. Encontraram o seguinte:
- Os trabalhos
na ensecadeira do Pimental e no sistema de transposição continuam a todo
o vapor. Todas as máquinas pesadas e outros veículos (escavadeiras,
tratores, caçambas, caminhões, ônibus, veículos pequenos, balsas e
voadeiras), estão funcionando na obra;
- Estão sendo
realizados serviços de drenagem de lagos, aterramento de lagos e
estradas, transportes de carros e trabalhadores entre a ensecadeira e a
área de transposição. Há homens trabalhando em soldagem de ferros nas
duas plataformas de transposição das embarcações;
- Topógrafos e engenheiros estavam a postos;
- A Empresa
responsável pela transposição é a Transglobal, que está com uma equipe
de 21 trabalhadores no local, 24h a disposição de ninguém, exceto da
nossa equipe, que chegou hoje para fazer o transbordo sem sucesso;
- O canal de navegabilidade, com aproximadamente 600m, continua sendo o do curso natural do rio, que não foi fechado;
- Formou-se uma
forte corredeira (os pescadores chamaram de cachoeira) que não existia
no canal natural, mas logo foi detectada pelo piloto e pelo pescador que
trabalham/trabalhavam nessa área do Xingu.
Conferi, nesse
momento, 35 homens e mulheres trabalhando na parte da jusante do Sistema
de Transposição de Embarcações (STE), mas existem trabalhadores
espalhados por toda a obra. Nesse local, as obras estão assim: a
estrada, com cerca de 2 km, está apenas no barro e com muita lama por
conta das chuvas; as plataformas que farão o transbordo não estão
concluídas; a rampa para o acesso das embarcações são improvisada; as
embarcações serão levadas por uma carretinha acoplada a um trator.
Nenhuma obra, tanto na ensecadeira quanto na transposição, estão
concluídas.
Nossa
experiência para inaugurar a transposição foi decepcionante. Chegamos
do lado da jusante (termo utilizado pelos funcionários) para fazermos o
transbordo para a montante, ao pararmos na rampa improvisada fomos bem
recebidos pelos funcionários da Transglobal, uma empresa de Manaus que
será responsável pela transposição das embarcações e do povo.
Perguntamos ao encarregado se eles já tinham experiência nesse ramo, a
resposta foi não, mas segundo ele a equipe está preparada para o
serviço, também informou que o tempo será de 40 minutos para o
transbordo.
Depois
de ouvirmos como se daria nossa travessia, ficamos aguardando uma van
para nos transportar, enquanto isso um trator com um suporte de ferro se
aproximava da rampa para levantar a voadeira de 12 lugares e assim
transportá-la até a montante, ficamos aguardando na van aquela operação.
Com muita dificuldade o manobrista do trator não conseguia posicionar o
suporte corretamente para içar a voadeira, a van sem ar condicionado
começou a esquentar e tivemos que abrir a porta para ventilar, em
seguida veio o encarregado nos dar a noticia que o transporte da
voadeira não seria possível por algum motivo que não prestei atenção, e
assim seguimos na van pela estrada de lama até o provável lago chamado
por eles de montante. Nossa voadeira teve que seguir seu trajeto pelo
rio.
Após
essa situação e de volta ao nosso transporte, o piloto nos disse que a
mesma não chegou a ser colocada sobre o suporte porque o mesmo é curto e
o motor ficaria forçando, correndo o risco de quebrar no transporte até
o outro lado do rio. Essa aventura levou mais de 30 minutos e não se
conseguiu fazer o transporte da nossa embarcação.
Imagem da plataforma |
Um
dos trechos da matéria que nos referimos no início diz o seguinte:
“Para permitir a navegação, a empresa também construiu um sistema de
transposição, que é um guincho usado para atravessar as embarcações por
cima da barragem”; “O sistema já está operando para pequenos barcos”.
A
presença da empresa responsável para fazer a transposição não significa
que está acontecendo o transbordo. Nenhum pescador ou piloto de
voadeira estão usando o STE e nem mesmo sabem como funciona. Mesmo
assim, a empresa está sendo paga? As condições inacabadas da
transposição não oferecem nenhuma condição e segurança para a sua
operacionalidade. Fomos os primeiros a tentar o caminho da transposição.
Tudo não passou de uma mentira que foi publicada.
Após
a visita ao setor de transposição nos dirigimos para a ensecadeira do
Pimental. As máquinas e trabalhadores continuam a trabalhar. Estão
fazendo a drenagem dos lagos e subindo o nível das ensecadeiras, que
aumentou consideravelmente em relação ao nível do rio Xingu.
As
perguntas: por que estão querendo que os barcos e voadeiras comecem a
utilizar o sistema de transposição sem antes concluírem a obra? O rio
não foi todo fechado. Segundo o pescador que foi com a gente o canal por
onde os barcos estão passando não tinha cachoeira, agora se formou uma,
a correnteza está muito forte e ainda só está no inicio do inverno.
Será que estão se prevenindo caso as rabetas e outros barcos, com
motores menos potentes, não consigam passar com a força do inverno?
Em
se tratando de Norte Energia (NESA), apoiada pela grande mídia e pelo
Governo Federal, tudo sempre se transforma em incertezas, mentiras e
ilusões.
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