O Centro de Pesquisa e Apoio aos Trabalhadores – CEPAT, parceiro estratégico do Instituto Humanitas Unisinos – IHU e Cesar Sanson, professor na Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, colaborador do IHU, ao longo de 2012 produziram análises da conjuntura semanais a partir da (re)leitura das "Notícias do Dia’ publicadas, diariamente, no sítio do IHU e da revista IHU On-Line,
publicada semanalmente. Como fecho do trabalho desse ano, apresentamos
uma Conjuntura Especial que retoma os grandes conteúdos abordados pelas
conjunturas semanais no ano de 2012.
Sumário:
Balanço socioambiental
Agendas ambiental e indígena sofrem retrocessos
Código Florestal: feito sob medida do agronegócio
Transposição do São Francisco: obra boa para a indústria da seca
Matriz energética: de costas para o futuro
Brasil e a nova “corrida do ouro”
Indígenas: estorvo ou nova concepção de mundo?
Reforma Agrária agoniza
Código Florestal: feito sob medida do agronegócio
Transposição do São Francisco: obra boa para a indústria da seca
Matriz energética: de costas para o futuro
Brasil e a nova “corrida do ouro”
Indígenas: estorvo ou nova concepção de mundo?
Reforma Agrária agoniza
Balanço socioeconômico
Os dilemas da economia mundial e as respostas do governo brasileiro
O rastro da crise econômica mundial e o abalo nos governos nacionais
A postura da América Latina frente à crise econômica
A opção brasileira. A cara do Brasil no contexto mundial
O modelo neodesenvolvimentista do governo Dilma
A abertura do governo Dilma ao setor privado
A inclusão social via mercado
O rastro da crise econômica mundial e o abalo nos governos nacionais
A postura da América Latina frente à crise econômica
A opção brasileira. A cara do Brasil no contexto mundial
O modelo neodesenvolvimentista do governo Dilma
A abertura do governo Dilma ao setor privado
A inclusão social via mercado
Balanço político
Caráter conservador do governo
Governo de coalizão. Indispensável?
Crise na esquerda
A esquerda que não tem medo de se nomear esquerda
Governo de coalizão. Indispensável?
Crise na esquerda
A esquerda que não tem medo de se nomear esquerda
Eis a análise.
O ano de 2012 foi
regressivo quando olhado sob a perspectiva dos movimentos sociais. Na
área socioambiental, econômica e política a agenda se fez mais de
permanências e retrocessos do que avanços.
Balanço socioambiental
Agendas ambiental e indígena sofrem retrocessos em 2012
O descaso com
que o governo tratou, em 2012, a agenda socioambiental, é prova
contundente de que o país se coloca de costas para a problemática e
caminha na contramão do debate mundial. Aos poucos vai se sedimentando a
percepção de que o governo brasileiro, apesar da retórica quando fala
de temas relacionados ao meio ambiente, não percebe – ou não quer
perceber – que é um dos poucos países que poderia oferecer uma
alternativa à crise civilizacional, que tem na mudança climática um dos seus fatores preponderantes.
No
debate ambiental o governo não pecou por omissão. Foi ainda mais grave.
Foi conivente, negligente e leniente com o retalhamento dos temas que
envolvem a agenda ambiental e indígena. O governo tratou o tema como um
aborrecimento que lhe cria problemas e divide a sua base de apoio
político. Há sinais evidentes de que se experimentou nesta área
retrocessos injustificáveis para um país com as potencialidades do
Brasil.
Na agenda do governo, os temas prioritários foram os
econômicos e sociais. Os problemas ambientais e indígenas foram
laterais, secundários. Estorvos que vira e mexe voltam à tona e que
precisavam ser administrados para se evitar maiores danos à base
política. Eventuais recuos do governo em relação ao atropelamento da
agenda ambiental e indígena apenas se deram quando houve forte pressão
do movimento social e ambientalista ou devido ao mal-estar junto à
comunidade internacional.
As agendas ambiental e indígena não foram estratégicas no governo Dilma Rousseff
e não se inserem no seu projeto de Nação. Não se viu, por parte do
governo, iniciativas ousadas nessas áreas. Pelo contrário, a agenda
governamental é reativa e subordinada aos setores conservadores, como se
viu em questões como o Código Florestal, a matriz energética e mineral,
a transposição do Rio São Francisco e a agenda indígena, entre outros.
Entretanto,
esse modus operandi do governo – mas também em muitos casos do Estado –
não está dissociado das tendências atuais do capitalismo no mundo,
sedento de recursos naturais e de commodities, razão pela qual, aliás,
toda a América Latina volta a figurar no cenário mundial como grande – e último? – “reservatório e fornecedor de recursos naturais” sobre o qual empresas multinacionais se lançam qual abutres sobre a carniça.
O
Brasil participa desta expansão capitalista através do modelo
neodesenvolvimentista. As bases do modelo neodesenvolvimentista se fazem
a partir da recuperação do papel do Estado como indutor do crescimento
econômico. Um Estado que alavanca a infraestrutura para assentar as
cadeias produtivas do capital privado.
Uma das pontas de lança do modelo em curso é a hiperexploração de uma das últimas fronteiras do país: a Amazônia legal.
A região já foi palco de um primeiro ciclo de exploração, nos anos 70, a
partir da tese da geopolítica de segurança dos militares que decidiram
ocupá-la com o projeto de transferência de populações para a região. O
ciclo desenvolvimentista em curso na região nesse momento, entretanto, é
incomparavelmente maior e o aumento da violência e dos impactos
ambientais e sociais na região está relacionado a essa nova dinâmica.
Ainda
mais grave, e na raiz da tensão dos acontecimentos sociais e
ambientais, está o fato de que o modelo de exploração é exógeno à região
e implantado a custa das riquezas e populações locais. Os grandes
projetos que chegam à região estão voltados para interesses externos.
Por um lado, tem-se a exportação de madeira, da soja, da carne, de
ferro-gusa e alumínio, sobretudo para países que não querem arcar com os
custos socioambientais dessas atividades, que são pesados; por outro, e
para viabilizar essa lógica econômica, tem-se os grandes investimentos
em projetos de infraestrutura energética – hidrelétricas – e de apoio
logístico – rodovias e hidrovias. A região presta-se ainda à expansão
dos interesses do agronegócio – soja, etanol e pecuária.
Plataforma
de exportação. É nisso que vem se transformando a Amazônia legal, uma
região que produz commodities – primarização da economia – para outros
países e para o consumo do Brasil desenvolvido, a região sudeste. É
nesse contexto que se insere a construção de mega-hidrelétricas – Belo Monte, Complexo Madeira, Complexo Tapajós, abertura de rodovias e hidrovias, ampliação da exploração de madeira e minérios, expansão da pecuária e das monoculturas da soja e da cana-de-açúcar.
Na contramão, mas como constitutivo desse modelo, deu-se nos últimos anos um recrudescimento da violência
na região amazônica brasileira sofrida por posseiros, mas também por
indígenas. Esses fatos, aparentemente isolados, relacionam-se a partir
da dinâmica expansionista do capitalismo brasileiro na região Norte do
país e que tem a Amazônia legal como novo cenário.
Por essas
razões, em março passado, diversas organizações da sociedade civil
lançaram em São Paulo, em uma coletiva de imprensa, um documento para
alertar a sociedade brasileira sobre os retrocessos que vêm sendo
constatados na área socioambiental e estimular a reflexão para
incentivar ações que revertam esse quadro.
A timidez e o
retrocesso na agenda socioambiental tornam-se especialmente visível em
alguns temas: Código Florestal, transposição do Rio São Francisco,
matriz e política energética e no tratamento dado à questão indígena.
Vejamos, embora sucintamente, cada um em particular.
Publicado originalmente no site do Instituto Humanitas Unisinos – IHU, 02/01/2013.
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