REGIANE TEIXEIRA DE SÃO PAULO
Todos os dias, a caminho do trabalho, o advogado
Luciano Santos, 54, diminui o passo quando se aproxima da praça do Ciclista, no
final da avenida Paulista, região central. De terno, examina o verde ao centro
da praça para ver se há algo que possa danificar os pés de alecrim, couve,
manjericão, milho e tomate plantados ali.
Desde outubro, um grupo formado por ciclistas e
entusiastas da agricultura urbana organiza o plantio de hortaliças no local.
Depois de fazer com que a praça se tornasse ponto de encontro das
"bikes", eles tiveram a ideia de ocupar o terreno com verduras.
"O lugar estava malcuidado e isso [a horta] representa a apropriação do
espaço pelos cidadãos", diz Luciano.
Além da Paulista, há outras hortas em
praças da cidade. Apesar da organização de gente que se reveza para cuidar dos
espaços, qualquer um pode colher os alimentos e ajudar a regar. A iniciativa
surgiu na internet com a comunidade Hortelões
Urbanos (http://on.fb.me/ horteloesurbano
) no Facebook, de 2011, para promover a troca de dados sobre jardinagem. Hoje,
são cerca de 2.000 membros. Além da ocupação do espaço público, a chamada
agricultura urbana pode ter objetivos variados, como fornecer alimentos sem
agrotóxico, fortalecer os laços entre vizinhos e incentivar a educação
ambiental. Foi a partir do encontro virtual que a ideia começou a ser plantada
em julho na Vila Madalena, zona oeste. Um grupo de moradores colocou as mãos na
terra para viabilizar a horta na praça Dolores Ibarruri, também conhecida como
praça das Corujas.
PARTICIPAÇÃO DA PREFEITURA
Diferentemente do grupo da Paulista, antes de
começar a trabalhar eles procuraram a Subprefeitura de Pinheiros para saber
como utilizar o espaço. "Já éramos um grupo que cuidava da manutenção da
praça e, quando procuramos o subprefeito, ele sabia disso", conta a
administradora de empresas Madalena Buzzo, 51. A subprefeitura mandou uma
agrônoma avaliar o terreno e cedeu terra e funcionários para fazer uma cerca.
"Eles não nos ensinaram a plantar, mas forneceram uma infraestrutura que
não poderíamos bancar", diz.
Segundo a prefeitura, os interessados em cultivar
em espaço público devem procurar a subprefeitura local para obter orientações
sobre onde, o quê e como plantar. As instruções vão desde a altura das cercas
até a proibição de invadir outros espaços, como áreas para brinquedos. "Se
um abacate cai na cabeça de alguém, por exemplo, é responsabilidade da
prefeitura", afirma Madalena. A educadora Flávia Aidar já tinha visto a
movimentação no local, mas nunca se envolveu com a horta. Num final de semana,
porém, recorreu a ela -preparava uma receita com tomilho, mas estava sem o
tempero. "Parece coisa de cidade do interior. Não estamos acostumados com
o coletivo."
Perto dali, outro plantio colore a praça Maria
Noeli Carly Lacerda. "Aqui a horta é algo que ajuda o público
da terceira idade a manter uma atividade e uma vida mais saudável", conta
a arquiteta Susana Prizendt, 38. Mesmo expostas, as hortas têm sido
preservadas. "Até hoje não houve depredação", diz a jornalista
Claudia Visoni, 46, que cuida das plantações da Paulista e da praça das
Corujas.
Na zona leste, 21 hortas vão além do uso do
espaço público. Elas geram renda para famílias da periferia por meio da ONG
Cidades Sem Fome (http://cidadessemfome.org
). A ideia começou em 2004 pelas mãos do gaúcho Hans Dieter Temp, 48. Para ele,
é possível plantar em qualquer local retirando o entulho e recuperando o solo.
"As hortas são oásis verdes dentro de regiões que estão degradadas",
afirma.
Originalmente publicado na Revista de Folha de S.Paulo, 06/01/2013.
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