Tropas da Companhia de
Operações Ambientais da Força Nacional de Segurança Pública, criada
por decreto presidencial no último dia 12 de março, estão posicionadas em
Itaituba preparadas para a execução da Operação Tapajós. Conforme informações
dos indígenas, os soldados e agentes deverão desembarcar em aldeia Munduruku nesta
quinta-feira, 28, para garantir realização dos estudos de impacto do Complexo
Hidrelétrico do Tapajós, no Pará.
A denúncia foi feita pela Associação Indígena
Pusuru, em carta divulgada nesta quarta-feira, 27. Os indígenas relatam que
foram informados, em reunião com a Fundação Nacional do Índio (Funai), em
Itaituba, que um grupo de 60 homens da Força Nacional irá para a aldeia Sawre
Muybu, também em Itaituba.
No documento, os Munduruku denunciam o governo,
que "vem mandando seu exército
assassino para nos ameaçar e invadir nossas aldeias" e temem um novo
massacre, "porque há 4 meses atrás numa operação chamada Eldorado foi
morto um parente e vários ficaram feridos inclusive crianças, jovens e
idosos".
Cerca de 250 homens fortemente armados estão
posicionados em Itaituba para a realização da Operação Tapajós. Agentes da
Polícia Federal, Força Nacional, Polícia Rodoviária Federal e Força Aérea foram
deslocados para as proximidades da Terra Indígena Munduruku com o objetivo de
realizar - à força - o estudo integrado de impactos ambientais para a
construção do chamado Complexo Hidrelétrico do Tapajós.
O Ministério Público Federal pediu à Justiça
Federal em Santarém que impedisse a realização de uma operação policial do
governo federal, porque o licenciamento ambiental da usina está suspenso pela
mesma Justiça por falta das consultas prévias aos índios. Porém, o juiz Federal
indefiriu o pedido. Valendo-se do feriado prolongado da Semana Santa,
tradicionalmente maior para o Poder Judiciário, o governo federal desenvolve a
operação de guerra.
Leia carta na íntegra:
CARTA DO POVO MUNDURUKU
Nós! Caciques, lideranças e guerreiros do povo
Munduruku sempre lutamos e continuaremos lutando em defesa de nossas florestas,
nossos rios, e de nosso território pois é de nossa mãe natureza que tiramos
tudo que precisamos para sobreviver, mas o governo que devia nos proteger, vem
mandando seu exército assassino para nos ameaçar e invadir nossas aldeias,
ultimamente nosso povo vem sendo desrespeitado vem sendo, ameaçado por um governo
ditador que vem ameaçando e matando nosso povo, usando suas forças armadas como
se os povos indígenas fossem terroristas ou bandidos.
Nós, povo Munduruku, repudiamos essa maneira
ditadora da presidenta que governa o País. Não aceitamos que policias entrem em
nossas terras sem a nossa autorização para qualquer tipo de operação. É um povo
especial! Um povo que já existia muito antes deles chegarem aqui, nessa terra
onde chamam de Brasil. Brasil é a nossa terra! Somos nós os verdadeiros
brasileiros.
Essa semana o governo brasileiro mandou 250
policiais para garantir a força os estudos das hidrelétricas nas nossas terras.
Hoje pela manhã foi decidido na sede da FUNAI em
ITAITUBA que 60 homens da Força Nacional irão para a Aldeia sawre muybu,
cumprir o decreto expedido pela Presidenta da Republica do dia 12 de março, é
uma Aldeia com 132 Indígenas. Estamos muitos preocupados porque há 4 meses
atrás numa operação chamada Eldorado foi morto um parente e vários ficaram
feridos inclusive crianças, jovens e idosos, na Aldeia Teles Pires.
O governo marcou uma reunião para dia 10 de abril
para falar dessa operação. Mas uma vez esse governo está quebrando acordo com o
povo Munduruku, por isso não queremos mais reunir com esse governo até que ele
pare com essa ação contra a decisão do nosso povo. Pedimos a ajuda do
Ministério Publico Federal, para nos ajudar a resolver esses problemas sem que
haja mais mortes. Pois não ficaremos de braços cruzados vendo tamanho
desrespeito com nosso povo e nosso território.
Povo Munduruku
Jacareacanga, 27 de março de 2013
*Originalmente postado no site do CIMI - Conselho Indigenista Missionário, 27/03/2013.
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